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29 de janeiro de 2013

AS BRUTAS QUE SOFREM

Entre nomes, apelidos e outras palavras, jaz um possível touro desenhado a milhares de anos; "Rosilda", uma anônima, reescreve a história sobrepondo uma das mais antigas artes, a rupestre. | Fotos: Val da Costa

Por Valdívia Costa

Shiii... Agora a gente vai fazer um esforço telepático para ouvir um pedido de socorro. Fui à Pedra do Touro, na cidade de Queimadas, no Agreste paraibano, e ouvi gritos. Ao subir ofegante o rochedo de 50 metros de altura, as brutas, duras, rijas e aparentemente insensíveis pedras do sítio arqueológico começaram a chorar. Suas inscrições rupestres, incluindo a do touro, que deu nome ao local, e até as formas rochosas, são violentadas diuturnamente.

Riscos grosseiros escrevem nomes anônimos... acreditam numa súbita aparência naquele lindo e colossal lugar? Desenhos horrendos, que contornam as inscrições como se as destacassem... fingimento para cobri-las, apagando-as? Tintas das mais diversas naturezas impregnantes... Um plano terrível para substituir a arte rupestre? Assim é o atual panorama de um dos 12 sítios arqueológicos que esta cidade “preserva”. Onde estão os guardiões da floresta e das pedras, que não derrubam esses vândalos e constroem defesas para a Pedra?

Na falta de internet e papel,
vândalos preferem deixar seus recados amorosos
no sítio arqueológico Pedra do Touro
Para chegar lá em cima só exercitando muito a panturrilha... É sacrificante – para quem é sedentário, lógico. Mas, ao chegar no alto e ver tanta beleza num giro de 360 graus, tudo passa... Ai, ai... só fica a sensação de bem estar. E o vento, que insiste em conversar. Isso, para quem vai apreciar, conhecer e até pesquisar a Pedra do Touro. Porque tem gente bem mais dura que essas pedras, e que esmagam um patrimônio... Porque existem estúpidos que têm cérebro, mas não usam. Aí, suas cabeças embrutecem, mais do que as pedras...

Um achado desses, que guarda nossa história humana em expressões artísticas, devia estar atraindo pessoas interessadas em preservação ou turismo ecológico. Segundo a historiadora Melissa Araújo (UEPB), no Complexo da Pedra do Touro é possível fazer trilhas, práticas de rapel e ainda visitar mais de 13 sítios arqueológicos existentes no local.

“Assim, a cidade de Queimadas é um verdadeiro museu a céu aberto, que merece ser protegido e conhecido para que as gerações futuras tenham a possibilidade de aproveitar aquilo que foi deixado pelos antepassados”, escreveu em artigo publicado recentemente no site do Sicoob.

Em cada pedra, uma pichação grande e feia
Como chegar - Quem vem de Campina Grande sentido Queimadas, é encantadoramente recebido por pedras poéticas que formam um bloco esticado, do lado direito, às margens da BR 104. É a Pedra do Touro, que chama a atenção pela sua grandiosidade. Um paredão simpático, que se pudesse falar diria: “Sejam bem-vindos! Subam em mim e tomem uma fresca, por gentileza!”

De acordo com o blog Tataguassu, a rocha é do tipo granito intrusivo e tal afloramento constitui um dos mais incríveis monumentos de pedra da Paraíba. Fica no Boqueirão da Serra do Bodopitá. O paulista, geógrafo e professor universitário brasileiro Aziz Nacib Ab'Saber, considerado a maior autoridade em Geografia da atualidade no País, fotografou a Pedra do Touro.

“A Serra de Queimadas, nas bordas do Boqueirão, que separa as colinas de CG, com relação às estiradas estepes do sertão dos Cariris Velhos. Diaclases tectônicas verticais e horizontais, blocos tombados e cancluras; vegetação rupestre e matinhas de vertentes baixas”, legendou. 

Esta inscrição está numa fenda, ainda protegida dos vândalos
Itacoatiaras – A Paraíba é rica em pedras e arte rupestre. O sítio arqueológico Pedra do Ingá, outra cidade bastante visitada, é o exemplo de como manter essas riquezas. Mais preservado e transformado em ponto turístico, o que protege mais o local, essa Pedra é um conjunto rochoso repleto de intrigantes inscrições rupestres, chamadas Itacoatiaras, produzidas em baixo-relevo. O paredão tem 46 metros de comprimento por 3,8 metros de altura e fica no lajedo do riacho Bacamarte.


Itacoatiaras do Estreito de perto
Itacoatiara é uma palavra de origem tupi que significa Ita = pedra + kwatia = lavrada, rabiscada. Esse tipo de “escrita” surgiu não se sabe exatamente onde, quando e nem quem foram os autores. 





Inscrições do Estreito estão
quase encobertas pelo lodo
e também pichações
Nas pedras paraibanas, as Itacoatiaras mais conhecidas são as do Ingá e do Distrito do Estreito, em Campina Grande. Gravados em rochas duríssimas com perfeição extraordinária, segundo a revista Tarairiu, tais gravuras repousam em rochas no leito de rios, riachos, poços e pequenos mananciais hídricos de todos os continentes (SANTOS, 2008).




Descida em pedras do Estreito,
caminho para Itacotiaras 
As inscrições apresentam-se com diversos sinais ambíguos. Segundo pesquisadores, compõem um surpreendente sistema de signos que foram gravados no passado através de sulcos largos, profundos e muito bem polidos. Uns dizem que os desenhos são atribuídos a finalidades e artífices diversos, desde antigas etnias indígenas até povos vindos de outros continentes ou alienígenas vindos do firmamento sideral.

Pinturas Rupestres - A arte rupestre é um dos mais importantes vestígios deixados pelos paleoíndios, conhecidos como caçadores-coletores. É o período que se estende desde os primeiros sinais de ocupação humana até o estabelecimento da agricultura e outras práticas. No Brasil são encontradas diversas manifestações dessa expressão.

Os locais mais conhecidos são em Naspolini (SC), no Sul do país, em Lagoa Santa, Varzelândia e Diamantina, próximo à cachoeira da Sentinela, em Minas Gerais, na região de Prata, próximo a Serra da Boa Vista. No Nordeste, destacam-se a Toca da Esperança, região central da Bahia, no estado do Piauí, na Serra da Capivara e muitos registros no Rio Grande do Norte, principalmente nas regiões do Seridó e na chapada do Apodi, como o Lajedo de Soledade.

Em Pernambuco encontram-se pinturas rupestres no município de Itapetim, nascente do rio Pajeú, nos sítios Boa Vista e Riacho Salgado e nos municípios de Afogados da Ingazeira e Carnaíba, na Serra do Giz, próximo ao povoado da Serra Carapuça. Segundo informação da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), de São Raimundo Nonato, há 260 sítios arqueológicos com pinturas no Parque Nacional da Serra da Capivara, criado em 1979. 

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